Destemperos acontecem
Tem horas que a gente vê que chegou tão longe conduzida pela raiva, que agora vai ter que voltar tudo isso caminhando.
Destemperos acontecem. Costuma ser durante essas temporadas que eu largo mão. Me vejo no meio de um cômodo bagunçado, sentada sobre uma pilha de tralhas tentando manter a pose.
Lamento absolutamente qualquer decisão durante os destemperos. Meto o bedelho. Perco dias inteiros rolando um feed, dissociada, como me disseram e aceitei.
E lamento, pelo tempo que se escorreu pelo ralo e por todo o potencial criativo que é desperdiçado no cume da raiva ou tristeza. Não chegam a ser sentimentos não-nobres, mas avassaladores.
A raiva até costuma mover, mas meio sem rumo, desorientada. Tem horas que a gente vê que chegou tão longe conduzida pela raiva, que agora vai ter que voltar tudo isso caminhando.
Falta muito pra chegar? A volta demora mais do que a ida.
Se a raiva morre, a tristeza enterra. Vai jogando terra até ficar impossível colocar a mãozinha para fora em busca da caneta e caderninho.
No meio disso tudo, tem também a reflexão sobre o real catalisador de tanto destempero.
Se for hormonal, me pergunto mesmo, se todo o incômodo de mudanças de humor durante o período pré-menstrual tem mais a ver com enxergar as coisas distorcidas ou tão claras que chega a incomodar?
E se for parte do plano patriarcal fazer que acreditemos que a claridade dos absurdos que enxergamos antes de menstruar na verdade são apenas distorções frutos dos nossos ciclos hormonais?